Circuito do Ouro destaca rotas de Afroturismo no Mês da Consciência Negra

Região turística reúne comunidades quilombolas, tradições culturais e experiências autênticas da cultura afro-brasileira

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Roteiros de Afroturismo destacam o protagonismo negro na arte, arquitetura, cultura e religiosidade presentes no Circuito do Ouro. Crédito: Edu Viero.

O Dia da Consciência Negra , celebrado nesta quinta-feira (20), ganha um significado ainda mais especial nas cidades que compõem o Circuito do Ouro , em Minas Gerais. A região turística, conhecida por preservar a história da época do ciclo do ouro no país, também foi (e ainda é) palco da resistência e valorização da cultura afro-brasileira, reunindo comunidades e manifestações culturais que mantêm viva a memória e o protagonismo do povo negro.

Neste mês dedicado à reflexão sobre a luta contra o racismo e à promoção da igualdade racial, o Circuito do Ouro chama atenção para o papel do turismo na valorização da cultura afro-brasileira. O chamado Afroturismo — movimento que incentiva viajantes a conhecerem e reconhecerem a história, a arte e as tradições negras — vem ganhando cada vez mais espaço, consolidando-se não apenas como uma tendência mundial, mas como uma pauta social relevante e transformadora.

O Afroturismo se manifesta em várias cidades históricas mineiras, por meio de rotas específicas, eventos, comunidades afrodescendentes, espaços culturais e gastronomia típica , que conectam o visitante às raízes africanas do Brasil. Para quem visita o Circuito do Ouro e deseja conhecer a história e a cultura afro-brasileira, as opções de turismo geralmente incluem: passeios por museus que remontam a história dos povos negros da região; participação em festejos e manifestações culturais que valorizem a cultura negra; gastronomia que se manifesta na comida ancestral; visitas a antigas minas, que abordam a história da extração de ouro e o trabalho escravizado, proporcionando uma imersão na realidade da época.

Além disso, guias e afroempreendedores locais especializados enriquecem a experiência, oferecendo uma perspectiva negra que aprofunda o entendimento dos viajantes sobre cada destino.

Roteiros afrocentrados:

A guia de turismo e empresária da agência receptiva Na Trilha Ouro Preto, Cleide Nolasco , conta que pelas trilhas, pelo ecoturismo e pelo turismo de base comunitária, encontrou uma forma respeitosa de manter vivas as memórias dos seus antepassados. Ela aborda o negro como artista, arquiteto, engenheiro, geólogo, estrategista, e não apenas pela narrativa da dor e da escravização.

Um de seus roteiros personalizados mais completos de Afroturismo, na cidade de Ouro Preto, inicia percorrendo o Bairro São João localizado na parte antiga da cidade, onde os visitantes são situados sobre a história do território. Depois, a visitação segue para o Sítio Arqueológico do Morro da Queimada, “com visita ao moinho de pedra e às ruínas, onde contextualizamos as práticas de mineração, as técnicas utilizadas à época e os processos desenvolvidos pela mão de obra escravizada“, conta.

Este roteiro conta ainda com trilha pelo alto da serra de Ouro Preto, caminhando pelos antigos aquedutos do século XVIII, entendendo a engenharia, a geologia, as rotas de circulação e a força intelectual dos negros que estruturaram a cidade. E finaliza descendo até a Mina du Veloso, encerrando com uma imersão dentro da mina, espaço que materializa a potência, a resistência e a herança deixada pelos antepassados.

Sempre fiz questão de trazer o Afroturismo como base dos meus roteiros. Para mim, isso vai muito além de turismo, é perpetuar a herança da minha ancestralidade, honrar a história do meu povo e devolver ao negro o lugar de protagonista que sempre foi dele“, afirma Cleide.

A agência HT Happy Travel, que atua com turismo privativo sob demanda, também oferece em Ouro Preto um tour afrocentrado que passa pelos principais pontos turísticos, com foco na importância e contribuição dos negros na arquitetura, na arte, na cultura e religiosidade impregnada em cada espaço da cidade. “ Visitamos alguns pontos icônicos como a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e a Mina de Chico Rei, por exemplo, para destacar a história e a presença de personagens importantes do período“, conta o diretor da agência Ricardo Campos.

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Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos faz parte dos pontos visitados no roteiro Afroturístico em Ouro Preto. Crédito: Edu Viero.

Ele reforça que para muitos turistas um roteiro como este é o despertar para a verdadeira história. “ Um tour com esse olhar sensível sobre a história e a presença da comunidade afro em Ouro Preto revela o que os livros de história nunca contaram, que é a importância dessa comunidade para o desenvolvimento de vários aspectos da sociedade mineira“.

 Para alguns visitantes é o encantamento sobre os detalhes e curiosidades que o passeio traz e para outros é o sentimento de pertencimento e valorização, afinal é a história de nossos antepassados recebendo o merecido protagonismo“, conclui Campos.

A cultura negra em eventos, sabores e expressões culturais:

Uma das expressões culturais e religiosas resultado da disseminação da população africana no país, e especialmente em Minas Gerais, é o Congado – reconhecido este ano como patrimônio cultural imaterial do Brasil. Os festejos ocorrem nos meses de maio, outubro e dezembro e seus rituais carregam expressões específicas e pluralidade de cores, cantos, instrumentos e elementos culturais utilizados para preservar a história.

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O pastel de angu foi criado por escravizadas e é até hoje uma iguaria típica de Minas Gerais. Crédito: Edu Viero.

Na gastronomia, uma das iguarias mineiras, o pastel de angu, tem sua origem associada à cidade de Itabirito, na metade do século XIX, quando duas mulheres escravizadas foram as primeiras a usar sobras de angu recheadas com guisado de umbigo de banana para fazer o pastel. E é também em Itabirito que ocorre mais uma edição da Semana da Consciência Negra, evento que segue até 23 de novembro com uma programação diversa, envolvendo arte, educação e memória e que convida à reflexão e ao fortalecimento da igualdade racial.

Diversas outras cidades realizam seus festejos e também celebram a data com programação variada e gratuita. Como São Gonçalo do Rio Abaixo, que iniciou no dia 10 o Festival de Arte Negra Ayeye , que ocorre até o próximo dia 22 oferecendo arte, música, gastronomia e debates sobre identidade e ancestralidade.

Semana da Consciência Negra em Ouro Branco também já iniciou e segue promovendo reflexão, oficinas, palestras e diversas atrações pela cidade até o próximo dia 21. Já em Congonhas o evento Africanidades celebra a força, a cultura e as tradições afro-brasileiras até o próximo dia 23, com capacitações, rodas de conversa, atrações culturais e ações de valorização da igualdade racial.


Outros destinos e comunidades quilombolas do Circuito do Ouro que traduzem a força e a riqueza do Afroturismo:

Santa Luzia – A cidade abriga a Comunidade Quilombola de Pinhões. Sua maior expressão cultural é a guarda catopés de Nossa Senhora do Rosário, cuja festa se realiza em outubro, registrada como patrimônio imaterial do município.  Além de manter viva a tradição religiosa e cultural, o artesanato local, especialmente o trabalho em argila, é outro destaque.


Também em Santa Luzia, a Comunidade Quilombola Manzo Ngunzo Kaiango , localizada na divisa com Belo Horizonte, é reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial de Minas Gerais, representando uma das mais importantes referências da cultura afrodescendente no estado.


Congonhas – A Comunidade Quilombola de Santa Quitéria vem desenvolvendo experiências de turismo pedagógico, que aproximam visitantes da história e do cotidiano local. A tradição da Folia de Reis é uma das expressões culturais mais marcantes da comunidade.


Mariana – O município abriga as comunidades quilombolas de Santa Efigênia e Adjacentes (Engenho Queimado, Emabúbas e Castro), que preservam manifestações como as Nicolinas, além de oferecer atrativos turísticos ligados às tradições afro-brasileiras.


Itabira – A Comunidade Quilombola do Morro Santo Antônio é referência em turismo de base comunitária e na produção das famosas quitandas do morro, símbolo da hospitalidade mineira. Também integra o cenário local a Comunidade Quilombola do Capoeirão, que mantém vivas as expressões culturais e gastronômicas herdadas de seus antepassados.


Bom Jesus do Amparo – A Comunidade Quilombola de Felipe destaca-se pela produção artesanal e pelas quitandas tradicionais, convidando o visitante a vivenciar o modo de vida e a culinária típicos do interior mineiro.

Circuito do Ouro presente no 1º Congresso Brasileiro de Afroturismo (CBAfro):


Mais do que um destino histórico, o Circuito do Ouro se consolida como um território que preserva, celebra e compartilha a riqueza da cultura afro-brasileira. “O fortalecimento do Afroturismo na região contribui para o reconhecimento da importância dessas comunidades e para a promoção de um turismo mais inclusivo, consciente e transformador“, afirma a diretora executiva da Associação do Circuito do Ouro, Natállia França.


Por isso, a Associação do Circuito do Ouro é apoiadora da primeira edição do Congresso Brasileiro de Afroturismo (CBAfro), uma iniciativa estratégica para promover o debate sobre o tema. O evento ocorre de 3 a 5 de dezembro em Belo Horizonte, inspirado por afroempreendedores que vêm criando roteiros afrocentrados e reunirá grandes nomes do afroturismo nacional, além de valorizar expressivamente os atores locais.

O Circuito do Ouro estará no evento com um espaço de atendimento, mostrando todos os roteiros e atividades voltadas ao Afroturismo desenvolvidas nos municípios que compõem a região, além de espaço de exposição de artistas pretos. “ Foi em municípios situados no Circuito do Ouro que tivemos o maior número de negros escravizados nas Minas Gerais. Ressignificar essa narrativa é o primeiro passo para entender a potência da resistência e da contribuição do povo preto para a cultura mineira“, afirma Thiago Bicalho, sócio da Sensações Turismo e um dos organizadores do congresso.

Seu sócio Lucas Xavier completa: “ Nós acreditamos que a construção efetiva de um turismo responsável por meio do Afroturismo passa pela articulação entre o poder público e a iniciativa privada. Papel esse que o Circuito do Ouro faz de forma ímpar ao apoiar e participar do Congresso Brasileiro de Afroturismo“.

Sobre o Circuito do Ouro e seus roteiros:

Com mais de 20 anos de atuação, o Circuito Turístico do Ouro é uma das principais Instâncias de Governança Regionais (IGRs) de Minas Gerais, promovendo o desenvolvimento do turismo por meio da união entre o poder público e a iniciativa privada. A região reúne atrações históricas, naturais e gastronômicas que formam um dos mais ricos mosaicos culturais do estado.
Os roteiros estão sinalizados e possuem grande proximidade geográfica, semelhanças históricas e culturais. A segmentação das rotas de visitação facilita a busca de informações e guia os visitantes pelas atrações e experiências. Os 18 municípios atrelados à Associação do Circuito do Ouro, além de participarem das políticas públicas de turismo fomentadas pela Instância de Governança Regional – que é responsável por orientar as cidades seguindo as diretrizes da Secretaria de Turismo e Cultura de Minas Gerais e do Ministério do Turismo – também se beneficiam do plano de trabalho estratégico da entidade. Os 18 municípios que fazem parte do Circuito do Ouro:
Congonhas
Ouro Branco
Ouro Preto
Mariana
Rio Acima
Itabirito
Nova Lima
Sabará 
Raposos
Santa Luzia
Caeté 
Barão de Cocais
Santa Bárbara
Catas Altas
Itabira
Nova Era
São Gonçalo do Rio Abaixo
⁠Bom Jesus do Amparo Para saber mais sobre cada um dos 4 roteiros:

– Entre Serras: da Piedade ao Caraça
– Entre Cenários da História
– Entre Trilhas, Sabores e Aromas
– Entre Ruralidades e Personalidades MAIS INFORMAÇÕES:
Site – https://circuitodoouro.tur.br/ 
Redes sociais –  @circuitodoouro e @associacaodocircuitodoouro


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Escrito por

Jerusa Soares: Jornalista Publicitária Sênior e especialista em Gestão de Tráfego. Desde 2008, atuo com marketing e conteúdo estratégico, abrangendo diversos segmentos como turismo, bem-estar, moda, alimentação, empreendedorismo, educação, esportes, política e e-commerce. Com uma experiência sólida de mais de 15 anos, ajudo empresas locais a aumentarem suas vendas por meio de estratégias de marketing digital bem elaboradas.

Especialidades:
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