Mais da metade dos brasileiros que planejam empreender até 2026 são mulheres

Saiba quais desafios ainda marcam a rotina das microempreendedoras, que conciliam a gestão dos negócios com o cuidado da casa e família

As mulheres representam 46,4% dos 14,6 milhões de Microempreendedores Individuais (MEIs) do Brasil, segundo dados do IBGE (2022). O levantamento mais recente da Global Entrepreneurship Monitor (GEM/Sebrae, 2023) indica que 54,6% dos brasileiros com intenção de empreender até 2026 são mulheres, sinalizando uma possível inversão no número de registros formais. A tendência ganha destaque na semana em que se celebra o Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino, em 19 de novembro, criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2014 para ampliar a visibilidade das mulheres no setor. 

Em 2023, a Aliança Empreendedora, organização sem fins lucrativos voltada ao apoio de microempreendedores em vulnerabilidade econômica, lançou o relatório “Todos Podem Empreender”. Segundo o documento, o Brasil tem cerca de 25 milhões de microempreendedores e microempreendedoras em situação de informalidade, com ou sem CNPJ. O número representa aproximadamente 26% da população ocupada. Desse total, 6 milhões possuem CNPJ e 10 milhões estão no Cadastro Único (CadÚnico). As mulheres correspondem a 34% deste grupo e 54% são pessoas negras. O levantamento destaca que esses perfis geralmente não são alcançados pelas políticas públicas tradicionais.

A informalidade, aponta a organização, é resultado direto das desigualdades de gênero e da falta de estrutura de apoio à mulher que empreende. Muitas recorrem ao trabalho autônomo como alternativa à ausência de vagas formais, mas enfrentam barreiras que dificultam a consolidação dos negócios. Para Lina Useche, cofundadora e head de relacionamento institucional da Aliança Empreendedora, compreender o contexto de vida dessas mulheres é essencial para que qualquer política de incentivo seja efetiva. “Quando a gente olha para o tempo de dedicação aos seus empreendimentos, a gente tem um grande desafio. O próprio Sebrae mostrou que o tempo dedicado das mulheres é, em média, 18% menor que o dos homens”, afirma.

 Ela explica que essa diferença está diretamente ligada à chamada “economia do cuidado”. “As mulheres sustentam a economia do cuidado; cuidam da casa, dos filhos, muitas vezes dos pais idosos e ainda tentam gerar renda a partir de um empreendimento que muitas vezes é feito dentro de casa. Essa tripla jornada é extremamente desafiadora”, destaca.

Segundo Lina, a falta de redes de apoio é um dos principais gargalos para o avanço do empreendedorismo feminino. “A política pública precisa entender que essa é a realidade, temos um contingente imenso de mulheres que são a base das suas famílias. Sistema de creche, rede de apoio, políticas de cuidado. Tudo isso é fundamental para que elas possam empreender e gerar renda de forma sustentável”.

Lina-Useche-cofundadora-e-head-de-relacionamento-institucional-da-Alianca-Empreendedora-1024x576 Mais da metade dos brasileiros que planejam empreender até 2026 são mulheres

Caminhos e soluções para as microempreendedoras

A Aliança Empreendedora desenvolveu uma metodologia própria de apoio ao empreendedorismo de base, voltada especialmente a quem empreende em contextos de vulnerabilidade e nem sempre tem um negócio formalizado. “É uma metodologia com bases teóricas e filosóficas fortes, voltadas para o ensino de adultos, com fundamentos antirracistas e feministas”, explica. “A gente parte do princípio de dar visibilidade às interseccionalidades, porque empreender sendo uma mulher negra, por exemplo, é completamente diferente de empreender sendo um homem branco”.

O conceito central é o da interseccionalidade, que considera os marcadores sociais — como raça, gênero, classe e território — que impactam a jornada de cada empreendedora. Um dos exemplos práticos é o conteúdo de formação de preço. “A gente não pode simplesmente chegar com uma fórmula. Quando falamos de precificação, estamos falando também de valorizar o próprio trabalho. É fazer com que essa mulher entenda quanto vale sua hora, reconheça o valor do que produz e tenha autoconfiança para cobrar por isso”, diz. Para muitas mulheres, empreender é o primeiro passo para conquistar autonomia financeira e emocional.

A organização também oferece ferramentas práticas para quem está no início da jornada empreendedora, especialmente mulheres. Um dos destaques é o curso Crescendo Meu Negócio de Alimentação, realizado pela plataforma Tamo Junto. O curso, 100% online e gratuito, destina-se a mulheres que vendem bolos, marmitas, doces ou refeições e tem como meta alcançar 7 mil inscritas em todo o Brasil. Ele ensina a precificar, divulgar no Instagram e WhatsApp, organizar delivery e reduzir desperdício, além de oferecer fichas técnicas, planilhas e e‑book de apoio.

A plataforma Tamo Junto vai além. Segundo a Aliança Empreendedora, nos últimos anos registrou mais de 50 mil novos usuários, chegando a quase 310 mil cadastros, sendo 80% mulheres e 75% inscritos não‑brancos. A ferramenta reúne cursos gratuitos, videoaulas, artigos, planilhas e mentoria, com foco em gestão financeira, formalização do MEI, marketing digital e redes de apoio. Para acessar a plataforma Tamo Junto, basta se cadastrar gratuitamente pelo site www.tamojunto.org.br

Dicas práticas para mulheres no início da jornada empreendedora

E para celebrar o Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino, Lina Useche, separou recomendações para quem está começando um negócio. “Rodeie-se de outras mulheres que também empreendem: entre em grupos, participe de redes de apoio, busque associações no seu bairro e aproveite as trocas. Estar conectada com quem compartilha experiências similares é fundamental para aprender, inspirar-se e superar desafios comuns”, afirma. A orientação ressalta a importância de construir rede e de se apoiar em estruturas existentes, como associações locais, grupos de WhatsApp e plataformas de capacitação, que podem oferecer orientação prática e motivação.

Outro ponto, segundo Useche, é conhecer profundamente o cliente. “Ouça com atenção o seu cliente, entenda quem ele é, qual dor ele tem, por que ele compraria com você e por que voltaria. O negócio se ajusta e se valida quando o cliente se reconhece no que você oferece”, explica. A especialista reforça que essa prática contínua de observação e aprendizado permite às empreendedoras ajustar produtos e serviços, aumentar a fidelização e fortalecer a sustentabilidade do negócio, especialmente no início da jornada.

Sobre a Aliança Empreendedora

A Aliança Empreendedora acredita que todos e todas os brasileiros podem empreender de forma digna e justa, e usa o empreendedorismo como forma de transformar o Brasil. Em 20 anos já apoiou mais de 250 mil microempreendedores, recebendo em 2023 o Prêmio de Melhor ONG de Geração de Renda do Brasil. Neste sentido, capacita e apoia gratuitamente microempreendedores formais e informais em comunidades e periferias de todo o país, gerando inclusão e desenvolvimento econômico social, em parceria com empresas, governos, organizações sociais e interessados na causa. Saiba mais em: www.aliancaempreendedora.org.br


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Escrito por

Jerusa Soares: Jornalista Publicitária Sênior e especialista em Gestão de Tráfego. Desde 2008, atuo com marketing e conteúdo estratégico, abrangendo diversos segmentos como turismo, bem-estar, moda, alimentação, empreendedorismo, educação, esportes, política e e-commerce. Com uma experiência sólida de mais de 15 anos, ajudo empresas locais a aumentarem suas vendas por meio de estratégias de marketing digital bem elaboradas.

Especialidades:
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